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MILHO: produtores devem ter mais um ano de boas margens

Para o Brasil, os baixos estoques observados na safra 2020/21 devem voltar a aumentar com a previsão de uma produção recorde na safra 2021/22 em 115 milhões de toneladas

Ao longo do 1º semestre de 2022 a média do valor da saca de milho na CBOT foi 21% superior frente ao mesmo período do ano passado. A razão para essa elevação na CBOT vem do cenário de balanço de oferta e demanda global apertado que ganhou mais preocupações com a interrupção do fluxo comercial oriundo da região do Mar Negro derivado dos conflitos entre Ucrânia e Rússia, que juntos representam 18% da produção mundial de milho, sendo a Ucrânia o quarto maior produtor mundial. Adicionalmente, a região é importante produtora e exportadora de trigo, produto substituto ao milho na ração animal.

No mercado interno, os preços se mantiveram firmes na média do 1º semestre de 2022 frente ao mesmo período no ano passado a despeito da chegada da 1ª safra, que teve seu total produzido afetado pela seca e altas temperaturas na Região Sul do Brasil, e do cenário de bom desenvolvimento da safrinha, que deverá totalizar 88 milhões de t de acordo com a Conab apesar de alguns cinturões de produção também terem enfrentado desafios para o desenvolvimento da lavoura. Olhando para a frente, a nossa perspectiva é que os preços do milho em Chicago se mantenham firmes também safra 2022/23 diante da perspectiva de uma relação entre oferta e demanda ainda em patamares apertados com a produção global sendo impactada pela redução de área de milho nos Estados Unidos e queda de produção na Ucrânia que, de acordo com USDA, deverá ter uma retração de 15%.

Como consequência desse cenário, devemos observar uma diminuição no estoque de passagem global, que, nas estimativas do USDA, só não será maior pois o consumo mundial também deverá cair. Assim, a relação “estoque/uso” deverá seguir próxima dos 26% como nas duas últimas safras. Além disso, caso tenhamos algum problema em um importante país produtor, a relação de oferta e demanda poderá voltar a ser deficitária e abrir espaço para um novo aumento das cotações.

Especificamente para o balanço norte-americano, o USDA projeta uma redução da produção da ordem de 4%, em consequência da queda da área plantada com milho no país em detrimento, principalmente, do crescimento da superfície cultivada com soja no país. Com esse cenário, a relação entre o estoque e uso local tende a seguir abaixo da média dos últimos anos.

Em relação à China, importante importador global do cereal, apesar de o USDA esperar uma leve redução da produção local, o órgão aponta que as importações do milho tenderão a reduzir quando comparado com a safra 2021/22, atingindo 18 milhões de t. Entretanto, recentemente os governos chinês e brasileiro avançaram no acordo do protocolo sanitário que deve pavimentar o caminho para que o milho nacional também seja destinado à esse importante mercado.

Para o Brasil, os baixos estoques observados na safra 2020/21 devem voltar a aumentar com a previsão de uma produção recorde na safra 2021/22 em 115 milhões de t. Isso somado à um cenário de leve aumento de área a ser produzida com milho verão na safra 2022/23 e também de um crescimento de 5% no plantio de milho safrinha, que seria abaixo da média de 9% dos últimos 3 anos, deverá trazer um conforto maior em relação à disponibilidade local de tal sorte que conseguiríamos amortecer possíveis aumentos das exportações – ocupando espaços deixados pela Ucrânia, por exemplo – e ainda assim reduzir os níveis de prêmios sobre as paridades com as cotações internacionais.

Em outras palavras, no nosso cenário, diferentemente do observado em 2021 e 2022 (até o momento de escrever essa publicação), as cotações deverão atravessar 2023 oscilando ao redor dos níveis de paridades de exportação, ou seja, em patamares levemente menores do que em 2022. Entretanto, fundamental para a determinação dos preços no Brasil será a taxa de câmbio, que, conforme nossas expectativas (ver capítulo Cenário Econômico) tende a seguir desvalorizado ao longo de 2023.

Produtores – mais um ano de boas margens

As nossas estimativas apontam para mais um ano de boas margens para a cultura do milho na safra 2022/23. De fato, embora esperemos algum arrefecimento, os preços do milho tendem a seguir em bons patamares e amortecer, mesmo que parcialmente, os impactos das altas dos custos de produção nas margens.

Milho

Ainda assim, como já comentado no capítulo de outras culturas, alguns cuidados devem ser tomados para garantir os bons níveis de rentabilidade. É válido chamar atenção, por exemplo, da recente melhora da relação de troca para adquirir os insumos, principalmente após as quedas dos preços dos nitrogenados para patamares próximos dos observados no período préguerra entre Ucrânia e Rússia. Embora o cenário de risco de disponibilidade de fertilizantes tenha se reduzido, ainda não se pode descartar a hipótese que possíveis desafios para a entrega de tais insumos poderão ocorrer, o que poderia afetar a disponibilidade de produtos para os que estiverem no final da fila.

É válido destacar que o ambiente de negócios seguirá influenciado pelo grande nível de incertezas derivado dos desdobramentos da guerra e também dos eventos relacionados à Covid. Diante desse cenário, é de se esperar, por exemplo, que a volatilidade cambial seguirá elevada e que atrasos logísticos poderão ocorrer, como observado recentemente.

Na China, houve perda de eficiência operacional nos portos do país a reboque da crise de Covid-19. Diante desse cenário, é imperativo que gestores gerenciem bem seus riscos (mercado, operacional, financeiro, etc), com especial atenção ao descasamento cambial. Adicionalmente, dados os maiores custos e gargalos logísticos esperados para o próximo ano, será importante.

ao produtor preservar bons níveis de liquidez para fazer frente à possíveis aumentos do ciclo de caixa, seja para operar em um mercado antecipado para compra de insumos e/ou para alongamento do prazo de recebimento das agroindústrias.

A análise é da Consultoria do Agro Itaú BBA.

Fonte: https://www.agrolink.com.br/