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Quais são as perspectivas da soja?

A safra 2021/22 foi marcada por estoques apertados no Brasil e no mundo devido à quebra de safra na América do Sul

A safra 2021/22 foi marcada por estoques apertados no Brasil e no mundo devido à quebra de safra na América do Sul como resultado dos efeitos do fenômeno La Niña e ao conflito entre Rússia e Ucrânia. Na média do Brasil, de acordo com a Conab, a produtividade ficou em 50,5 scs/ha, redução de 14,1% em relação à safra anterior, o que frustrou as expectativas resultando em uma produção total de 124 milhões de t, 10,2% inferior à da safra passada mesmo com aumento de 4,4% na área plantada.

O produtor brasileiro foi beneficiado novamente pelo aumento das cotações da oleaginosa em relação à temporada passada. A média do valor da saca de soja entre fevereiro e maio desse ano na CBOT, por exemplo, foi 14% superior à do mesmo período do ano passado. E, em Sorriso foi de 8,8% a mais quando comparado à safra anterior. Ainda que nem todos os produtores tenham conseguido aproveitar essas elevações das cotações por terem realizado fixações de parte da safra antecipadamente, os preços médios obtidos ainda foram superiores aos realizados na safra passada e propiciaram margens bastante atrativas.

Olhando para a safra 2022/23, a nossa perspectiva é que os preços seguirão em patamares elevados historicamente, mas algum arrefecimento é esperado diante da expectativa de aumento da produção em importantes países produtores e exportadores. De acordo com o USDA, a produção de soja no mundo deverá aumentar 11% somando 391 milhões de toneladas. Além de considerar um crescimento de 2% na produção dos Estados Unidos, tal cenário pondera que a safra na América do Sul deverá alcançar 208 milhões de toneladas, aumento de 20% sobre a safra passada. Ainda assim, a relação estoque/uso deverá oscilar ao redor de 26%, nível abaixo das safras anteriores embora superior ao da 2021/22.

É importante destacar que a consolidação dessa produção estimada pelo USDA está sujeita a revisões, uma vez que ainda estamos no meio do período de desenvolvimento da lavoura nos Estados Unidos e a safra na América do Sul terá seu plantio iniciado apenas no final do terceiro trimestre do ano.

No tocante à produção no Brasil, espera-se que os números voltem a patamares superiores aos da safra 2020/21, alcançando o volume recorde 149 milhões de t. Nosso cenário supõe um crescimento de 2% da área plantada e níveis de produtividade próximos aos observados em 2020/21 . A despeito de ainda haver riscos quanto à disponibilidade plena de fertilizantes e os altos preços do insumo podendo levar a uma redução de seu uso, assumimos que a combinação entre os bons níveis de estoques de fertilizantes no solo e aplicações mínimas possibilitarão bons níveis de produtividade no Brasil caso não ocorram grandes choques climáticos.

No tocante à demanda, a nossa expectativa é que ela siga firme na esteira do aumento da produção de ração no mundo e da onda de esverdeamento da matriz energética, o que puxará o consumo de óleos vegetais para a produção de biocombustíveis. Nos Estados Unidos, por exemplo, a EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos) já aumentou a obrigação da utilização de biodiesel no país. Além disso, a produção de diesel verde1 deverá se acelerar ainda mais em solo americano com os investimentos recentes em aumento de capacidade.

É válido ressaltar também que embora seja esperado um incremento da produção de óleos vegetais no mundo, a relação entre oferta e demanda quando olhada de maneira agregada deverá seguir justa. No Brasil, o consumo também deverá crescer puxado pelo aumento da produção de ração e pela busca de óleos vegetais, seja para as exportações ou a reboque de uma possível recomposição da mistura do biodiesel no diesel no mercado local, caso ocorra.

Ainda assim, e considerando que as exportações poderão alcançar 88 milhões de t, as nossas primeiras projeções mostram que os estoques de passagem deverão voltar a aumentar, o que, consequentemente, poderá limitar o valor dos prêmios nos portos no Brasil.

Produtores – margens boas, mas caindo em relação à safra anterior

As nossas estimativas apontam para mais um ano de margens atrativas para o produtor na safra 2022/23, porém menores que as observadas na safra anterior. Por mais que esperemos um aumento de custos diante da elevação dos preços em dólares dos defensivos e fertilizantes, principalmente desse último, e aumento de despesas com diesel e mão de obra, os balanços apertados devem deixar pouco espaço para quedas abruptas das cotações garantindo uma boa rentabilidade.

Apesar do cenário positivo, alguns cuidados devem ser tomados para garantir os bons níveis de margens. É importante, por exemplo, que o produtor esteja atento à melhora recente da relação de troca para adquirir os insumos.

Embora o cenário de risco de disponibilidade de fertilizantes tenha se reduzido diante dos bons níveis de importação, ficar no final da fila de pedidos pode significar não ter o insumo disponível no momento corretocaso haja algum problema na interiorização de tais produtos. Não se pode deixar de mencionar também que os custos financeiros deverão subir substancialmente diante do aumento das taxas de juros no Brasil e no mundo, o que deverá implicar em maior comprometimento do resultado operacional com despesas financeiras.

É válido destacar que o ambiente de negócios seguirá influenciado pelo grande nível de incertezas derivado dos desdobramentos da guerra no Leste Europeu e também dos eventos relacionados à Covid-19. Diante desse cenário, é de se esperar, por exemplo, que a volatilidade cambial seguirá elevada e que atrasos logísticos poderão ocorrer.

Diante desse cenário, é imperativo que gestores monitorem bem seus riscos (mercado, operacional, financeiro etc.), com especial atenção ao descasamento cambial. É importante também preservar bons níveis de liquidez para fazer frente aos possíveis aumento do ciclo de caixa.

As informações são do relatório da Consultoria Agro BBA.

Fonte: https://www.agrolink.com.br/