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11 de julho de 2022

  • Entenda por que custo de produção de leite aumentou tanto em dois anos

    De acordo com Glauco Carvalho, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, a menor oferta do produto é a grande causa do aumento de preço

    Não é apenas a entressafra que explica a inflação dos lácteos no Brasil. Apesar de o litro de leite UHT ter atingido o valor de até R$ 8 em alguns estabelecimentos, por causa da chegada do inverno e da redução das chuvas em boa parte das regiões produtoras, o produto já seguia em elevação nos últimos meses.

    Motivos

    Segundo Glauco Carvalho, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, a principal causa do aumento é a menor oferta do produto nos laticínios, o que se deve principalmente à elevação dos custos de produção.

    A entressafra tem início em abril, mas, segundo o pesquisador, “a oferta de leite já vinha fraca desde de meados de 2021 e acentuou nos primeiros meses de 2022”, afirma Carvalho.

    Além disso, a entressafra acentuou a escassez de leite no mercado. Nos últimos anos, houve uma alta de 62% nos custos para o produtor, gerando uma elevação de 43% no preço ao consumidor.

    Segundo Carvalho, o preço, mesmo em alta, não está sendo suficiente para cobrir os custos, o que piorou a rentabilidade nas fazendas e levou o produtor a diminuir a oferta, reduzindo a alimentação das vacas.

    Dados

    De acordo com a pesquisa referente à compra de leite pelos laticínios no primeiro trimestre do ano, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelaram uma queda de 10,51% em comparação aos três primeiros meses de 2021 (veja figura 1). Essa foi a quarta queda trimestral consecutiva e a maior em uma avaliação trimestral desde o início da pesquisa, em 1997.

    “O volume de leite adquirido no primeiro trimestre deste ano foi o equivalente ao observado em 2017, o que significa que a indústria regrediu cinco anos em termos de captação de leite”, explica.

    Figura 1 – Variação do volume de leite adquirido pelos laticínios: trimestre contra o mesmo trimestre do ano anterior (%) Fonte: IBGE/Embrapa Gado de Leite

    Em conclusão, a expectativa é que os números do segundo trimestre, que coincide com o início da entressafra, repitam o cenário de escassez do primeiro trimestre. Mas no segundo semestre, a perspectiva é de algum crescimento na oferta, motivada pelo início do período de chuvas e também por uma recuperação nas margens de lucro do produtor.

    “Os preços ao produtor estão em alta e isso vai dar um incentivo para melhorar a produção”, acredita Carvalho. No entanto, o pesquisador salienta que muitos produtores saíram da atividade e outros destinaram animais para o abate. “O impacto disso na recuperação da oferta é difícil quantificar”, conclui.

    Custos aumentam desde 2021

    A escalada dos custos vem ocorrendo desde meados do ano passado, impactando a rentabilidade dos produtores. De janeiro a junho deste ano, o preço médio do leite pago ao produtor, deflacionado pelo custo de produção, recuou cerca de 3,8%. Esse número é comparado ao mesmo período de 2021.

    Simultaneamente, do rol dos insumos que mais subiram de preço estão os fertilizantes e os combustíveis, afetados pela guerra Rússia-Ucrânia. Até o frete marítimo internacional, também em alta, entram nessa conta.

    Mas o insumo que mais tem pesado no caixa do produtor é o volumoso, que registrou elevação de 51% na comparação de maio deste ano com o mesmo mês de 2021. “Produzir silagem e adubar pastagens está bem mais caro”, constata José Luiz Bellini Leite, analista da Embrapa.

    A ureia no mercado brasileiro passou de R$ 2,3 mil por tonelada, no início do ano passado, para cerca de R$ 6,3 mil em março de 2022. O cloreto de potássio foi de R$2 mil/t para R$6 mil/t. Esses insumos tiveram os preços afetados diretamente pelo conflito no leste da Europa, que tem a Rússia como a principal exportadora.

    Leite: produto sazonal

    Todavia a entressafra, como de costume, também carrega parte da culpa pela alta dos lácteos. O leite no Brasil é um produto sazonal, com períodos claros de safra e entressafra.

    Nesse meio tempo, a diminuição da oferta devido à sazonalidade explica o aumento do preço pago pelo consumidor em parte do outono/inverno. No lado contrário, ocorre regressão do preço com o crescimento da oferta no período de primavera/verão. Os dados do IPCA-15/IBGE, de novembro a janeiro do ano passado, mostram que os produtos lácteos ao consumidor tiveram queda natural de preço.

    As coisas começam a sair da normalidade com a alta das commodities, revertendo a tendência de preços baixos a partir de fevereiro, em plena safra.

    De acordo com Paulo do Carmo Martins, pesquisador da Embrapa, a demanda por lácteos também costuma apresentar oscilações ao longo do ano, o que resulta em um setor com preços tradicionalmente voláteis.

    “Em alguns períodos, são os produtores que reclamam dos preços baixos pagos pelos laticínios; em outros, são os consumidores que ficam insatisfeitos com o valor que estão pagando pelos produtos lácteos”, diz. Para Martins, esse fato passa a impressão de que o leite é sempre um problema na cesta de alimentos.

    Crise inflacionária aumenta custos

    Em conclusão, com a volta da inflação a dois dígitos, as atenções se voltam para os gêneros alimentícios. Estes tem maior impacto nas populações de baixa renda e o leite assume seu protagonismo. Mas, segundo Martins, a alta da inflação tem se mostrado um fenômeno mundial.

    “Esse é o reflexo do desarranjo das cadeias produtivas globais, impactadas pela descontinuidade na produção e no transporte durante a pandemia de Covid-19”, conclui.

    Portanto, o que confirma essa conclusão é o índice do Global Dairy Trade – GDT (plataforma mundial que realiza leilões de lácteos) recuou um pouco. Ao mesmo tempo, contudo, segue em patamares elevados (US$ 4,6 mil/t) desde que atingiu seu maior valor em fevereiro: US$ 4.630/t. Os índices do GDT mostram que em dois anos, a tonelada do Leite em Pó Integral oscilou de US$1,9 mil a US$ 5,3 mil.

    Ao mesmo tempo, para os pesquisadores e analistas do Centro de Inteligência do Leite (Cileite/Embrapa), a crise econômica que reduziu o poder de compra da população está evitando que a crise de oferta torne os preços dos lácteos mais elevados.

    Ainda assim, o leite não pode ser visto como “maior vilão” da inflação de alimentos. Segundo dados do IPCA, entre os produtos de proteína animal (carne, frango, ovos e lácteos), leite e derivados são os que apresentaram menor alta nestes dois anos (veja figura 2).

    Figura 2 – Variação de preços do grupo Alimentação e de alimentos à base de proteína animal, durante a pandemia (abri/2020 a abr/22), expressos em números índices (mar/2020=100) – Fonte: Cileite/Embrapa com base no IPCA/IBGE

    “No rastro desse momento de adversidade, tem ocorrido um processo mais acelerado de consolidação no setor, com modernização tecnológica da produção. Além disso também há exigência de maiores investimentos e pressão por economia de escala”, afirma Bellini Leite.

    Fonte: https://www.canalrural.com.br/

  • Soja mais resistente à seca. Como a ciência está trabalhando nisso?

    Embrapa Soja e institutos japoneses buscam viabilizar semente mais tolerante ao estresse hídrico em um futuro próximo

    Soja mais resistente à seca é, com certeza, um desejo do produtor brasileiro. A estiagem que derrubou a produção no Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul nesta safra 2021/22 é uma prova disso.

    A notícia ruim é que a demanda da planta por água tende a ficar cada vez maior por conta da elevação da temperatura global. Conforme o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as próximas décadas serão de secas mais frequentes e chuvas torrenciais em grande intensidade, ou seja, com distribuição deficitária ao longo da safra.

    Na tentativa de amenizar os impactos desse cenário negativo no agronegócio, a ciência trabalha no desenvolvimento de grãos mais tolerantes à seca. Para isso, está buscando no passado o histórico de cultivares que possam trazer respostas para as carências atuais.

    Todavia, antes de se aprofundar no assunto, vale registrar que mais de 95% da soja brasileira é cultivada em regime de sequeiro. Desta forma, a necessidade de chuva durante a floração e o enchimento de grãos é de cerca de oito milímetros por dia, segundo a Embrapa Soja. Tal exigência pode ser ainda maior se os termômetros estiverem acima dos 30°C, algo absolutamente comum no Brasil.

    A entidade afirma, ainda, que ao se considerar toda a safra de soja e tendo em vista a obtenção do máximo de produtividade, são necessários de 450 mm a 800 mm de água durante toda a temporada. Contudo, tal variação depende do manejo da cultura, da duração do ciclo, das condições climáticas e do solo.

    Diante de um contexto tão desafiador, como a ciência pode ajudar a principal commodity agrícola do país a continuar batendo recordes de produção? A edição genética traz respostas interessantes e, ao contrário do que se possa imaginar, com previsão de aplicação na lavoura em um futuro próximo.

    Soja mais resistente

    Gerar soja mais resistente à seca por meio de melhoramento genético clássico é um enorme desafio, visto que esse tipo de tolerância advém de um grande número de genes. Mesmo assim, uma pesquisa desenvolvida nos últimos dez anos pela Embrapa Soja em colaboração com institutos de pesquisa do Japão chegou a uma resposta.

    Os pesquisadores conseguiram introduzir um gene – isolado da planta Arabidopsis thaliana – e comprovaram que as plantas transgênicas apresentam maior estabilidade de rendimento frente ao estresse. O resultado disso foi uma semente que é, no mínimo, 15% mais resistente à seca, dependendo do nível de escassez hídrica aplicado.

    Para tanto, foi usada uma metodologia de edição genética que age de forma cirúrgica no DNA da planta. Segundo a pesquisadora da Embrapa Soja à frente do estudo no Brasil, Liliane Mertz-Henning, a ferramenta CRISPR/Cas, com a qual é possível colher elementos de uma cultivar mais antiga e inserir em uma soja mais moderna, foi a escolhida.

    “A soja, assim como outras culturas, tem uma variabilidade genética enorme. Temos bancos de germoplasma com mais de 50 mil tipos desse grão, que possuem características muito interessantes, mas que são difíceis de trazer para um grão mais moderno por meio de melhoramento genético”, considera.

    O que acontece é que, muitas vezes, quando se consegue trazer as características interessantes de uma oleaginosa mais rudimentar para uma moderna, vem com elas outras peculiaridades que não são úteis, o que se explica pelo processo ser aleatório.

    “O CRISPR/Cas permite que se identifique em um material mais antigo uma determinada resistência à doença ou uma melhor adaptação a uma condição de estresse e se copie isso de forma muito precisa a uma cultivar mais moderna”, explica.

    Barreiras para o lançamento

    Para criar uma soja mais resistente à seca, os aspectos regulatórios associados aos Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) dificultam a disponibilização dessas tecnologias.

    “Os testes e as exigências para se colocar um produto transgênico no mercado são bastante rigorosos. Temos legislações distintas em diferentes países e como a soja é uma commodity, ela precisa passar pela legislação de biossegurança das várias nações para as quais o Brasil a exporta. Assim, precisamos fazer a liberação no Brasil pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e também na China e na Europa, por exemplo. Isso acaba elevando bastante o custo e o tempo para colocar esse produto no mercado”, afirma.

    Para contornar esse problema, as ferramentas de edição gênica são a alternativa. “A vantagem do uso do CRISPR/Cas é que se não estivermos inserindo genes de outras espécies e apenas copiando aquilo que está em uma soja mais antiga para uma mais moderna, essa nova planta não será considerada um OGM porque não possui sequências de outras espécies e não precisa passar por todo esse processo regulatório que é caro e demanda muito tempo“, destaca Liliane.

    Com isso, de acordo com ela, reduz-se custo e tempo para colocar novas tecnologias no mercado, além de possibilitar que mais empresas desenvolvam o material. Assim, tem-se ferramentas que conseguem “popularizar” tecnologias de produção transgênica, aumentando a competitividade desse mercado que, até então, é restrito às grandes multinacionais.

    “Hoje em dia, ao se considerar toda a fase de estudo até a regulação de um transgênico para implantá-lo no mercado, tem-se um custo de cerca de 136 milhões de dólares“, diz a pesquisadora.

    Mas quando teremos essa soja no mercado?

    Tal investimento necessário a longo prazo explica o fato de existir no mercado apenas plantas transgênicas focadas na tolerância a herbicidas e na resistência a insetos. Ao conseguir gerar uma soja que não seja classificada como OGM e que não precise passar por regulação, a estimativa de uma oleaginosa ao menos 15% mais resistente à seca pode se concretizar daqui a cinco a dez anos.

    “Pode parecer incerto, mas é preciso lembrar que, hoje em dia, qualquer produto transgênico, mesmo sendo produzido por grandes multinacionais, leva de 15 a 20 anos para ir ao mercado. Essas novas ferramentas permitem encurtar esse processo”, salienta a pesquisadora.

    Desta maneira, na melhor das hipóteses, o sojicultor que plantar a oleaginosa na safra 2026/27 com essa semente não precisará ficar sujeito a volume de chuva de no mínimo 450 mm e, sim, de “apenas” 380 mm.

    “É importante frisar que nunca conseguiremos transformar a soja ou outras culturas de grãos em cactos. O que é possível é ter um desempenho melhor em condições de estresse. A soja não vai poder sobreviver sem água, mas é possível perder menos em uma estiagem“, afirma Liliane.

    Segundo ela, o indicado é sempre aliar uma genética que favoreça maior estabilidade de rendimento a outras práticas de manejo, como semear na época recomendada, utilizar cultivares adaptadas e fazer rotação de culturas, já que a adoção de uma única ferramenta não é capaz de dar a segurança que o produtor necessita.

    Fonte: https://www.canalrural.com.br/

  • Mercado global de agricultura digital deve crescer 183% até 2026

    Estimativa é que segmento movimente mais de oito bilhões de dólares no período

    Um levantamento realizado pela 360 Research & Reports mostra que o mercado global de agricultura digital deve crescer 183% até 2026, movimentando US$ 8,33 bilhões.

    O estudo aponta para um crescimento do setor de 15,9% ao ano neste período. O comparativo é em relação ao volume registrado em negócios em 2019.

    Segundo o engenheiro agrônomo e gerente de produção na NovAmérica Agrícola, Graciano Balotta, entre os principais benefícios de implantar a agricultura digital na lavoura está ter acesso a diversos dados gerados a cada safra e, com essas informações, decidir o que fazer de forma mais eficiente em cada ciclo da operação.

    “Quando você não tem informações de dados para tomar decisão, acaba, às vezes, não tendo uma assertividade tão grande. Além disso, acarreta em maior custo de produção”, comenta.

    Investimento mais acessível

    As startups têm contribuído no desenvolvimento de novas ferramentas que facilitem a vida do produtor rural. Com o avanço do mercado de agricultura digital, o investimento está ficando cada vez mais acessível.

    “É muito importante que o produtor entre em contato com esse ecossistema para conseguir implementar essas tecnologias e pensar de forma diferente para gerir o seu negócio com essas novas ferramentas”.

    O especialista alerta, ainda, para a importância de analisar as novas ferramentas implantadas para ter conhecimento dos resultados. Afinal, o que foi benéfico em uma propriedade pode não ser em outra.

    “Precisa entender e validar no campo toda essa tecnologia. Nós acreditamos muito nessas validações, com implementações graduais para que se consiga, realmente, extrair todo o potencial de uma ferramenta”, finaliza.

    Fonte: https://www.canalrural.com.br/