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5 de junho de 2023

  • Já é possível saber se o El Niño afetará a produtividade da soja?

    Após duas safras com incidência de La Niña, que afetou a produção de soja no Sul, agora é a vez do El Niño trazer efeitos na agricultura

    O produtor de soja olha para o céu e tem uma certeza: não é possível ter certezas sobre o clima. O volume, a distribuição e a regularidade da chuva são insumos que não se pode comprar, arrendar ou travar preço. Assim, segue como a máxima incógnita de uma lavoura. O mesmo vale para a incidência do sol.

    Nos últimos dois ciclos, Paraná e Rio Grande do Sul se revezaram com o pior resultado em produção. Quebras de safra têm sido comuns por lá e o sojicultor sabe bem o culpado: o La Niña.

    Contudo, na temporada 2023/24, as probabilidades indicam que outro fenômeno dará as caras, o El Niño. De acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês), há 89% de chances dele se concretizar.

    Por enquanto, segundo o meteorologista do Canal Rural, Arthur Müller, o momento é de neutralidade. “No entanto, as projeções indicam que a partir de agosto já devemos ter a certeza da configuração do fenômeno, que se dá a partir do aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico”.

    Clima nos próximos meses

    A tendência para junho, julho e agosto é de mais chuva no Sul e temperaturas mais altas no Centro-Oeste, conforme o meteorologista.

    “Para o Sul, a preocupação maior é quanto à intensidade do El Niño. Não adianta chover muito e não ter períodos de sol, já que a planta precisa fazer fotossíntese. Mesmo assim, é provável que o Sul tenha melhores produtividades de soja”.

    Quanto à temperatura, Müller destaca que a cultura se beneficia quando os dias se mantém entre 20°C e 35°C. “Para o Nordeste, a tendência para os próximos três meses é de chuva abaixo da média, mas entre setembro e outubro, quando a semeadura se inicia, é provável que o regime de chuvas fique dentro da média”.

    El Niño: dos males, o menor

    Já o pesquisador da Embrapa Soja, José Renato Bouça Farias enfatiza que, independente de confirmação ou não de El Niño, a notícia positiva é que o La Niña perdeu força e não está mais ativo.

    “Mesmo assim, não é possível estabelecer uma correlação perfeita entre produtividade de soja e a existência desses dois fenômenos. O clima tem uma variabilidade natural”, diz.

    Todavia, o pesquisador admite que o El Niño traz maior probabilidade de chuva no verão, o que pode favorecer a cultura da soja.

    “Por outro lado, maior quantidade de chuva não quer dizer melhor distribuição, que acaba sendo o fator mais importante. A soja é uma cultura muito sensível, de ciclo curtíssimo, com fases fenológicas muito bem definidas. Ausência de chuva e altíssima temperatura em período crítico a destrói”.

    Onde pode chover mais?

    Há maiores possibilidades de o volume de chuva ser mais intenso no Sul do que no Norte do país, de acordo com o pesquisador da Embrapa Soja.

    “Já a região Centro-Oeste costuma ficar em uma faixa de transição, onde por vezes tem maior volume e às vezes menos. No entanto, essa região já costuma ter bom regime de chuva naturalmente, independente do fenômeno”, cita.

    Farias destaca que os problemas de déficit hídrico que, por ventura, possam aparecer na próxima safra serão mais concentrados no Nordeste, no Matopiba.

    Müller concorda: “As projeções de agora mostram que no verão, entre dezembro, janeiro e fevereiro, o clima tende a ficar mais seco na região”.

    O pesquisador da Embrapa corrobora: “Nessas áreas são característicos períodos sem chuva em anos de El Niño. Porém, de forma geral, o fenômeno costuma ser muito mais sentido na sociedade urbana, com problemas de enchentes e alagamentos do que na agricultura. Muitas vezes o produtor nem percebe que está sob efeito de El Niño”.

    Fazer bem feito para não sofrer com o El Niño

    arias destaca que a variabilidade do clima é imperativa, independentemente do fenômeno climático. “É normal em anos de La Niña termos altíssimas produtividades e em anos de El Niño termos baixíssimas produtividades. Assim, cabe ao produtor usar sempre as melhores tecnologias possíveis, boas práticas para fazer render a sua lavoura”, considera.

    Nesse pacote tecnológico à disposição do produtor de soja, o pesquisador salienta a importância de:

    • Procurar cultivares adaptadas a sua região, resistentes às adversidades mais comuns do clima
    • Fazer bom manejo do solo, procurando estruturá-lo ao longo dos anos, ofertando a ele maior capacidade de armazenamento de água para suprir as necessidades quando não chover
    • Manter o escalonamento de semeadura

    O pesquisador afirma que, como a sensibilidade da cultura é muito específica em determinados períodos, não é aconselhável plantar toda a área em uma mesma época e nem usar uma mesma cultivar com mesmo ciclo na mesma propriedade.

    “Quando a seca afeta a cultura, ela atinge uma região inteira e, muitas vezes, é comum ver que os produtores dessa região semearam todos na mesma época e com a mesma genética. Assim, quando falta água, todos são afetados ao mesmo tempo. Por isso destaco: é importante semear e usar variedades diferentes das do seu vizinho”.

    Fonte: https://www.canalrural.com.br/

  • Zootecnista ensina como identificar mastite e proteger a saúde do gado de leite

    É importante tratar a doença prontamente para prevenir complicações mais graves

    Confira a entrevista da Scot Consultoria com o zootecnista Petterson Sima sobre mastite, a doença que afeta o gado leiteiro:

    Scot Consultoria: Como é possível diagnosticar a mastite clínica e a mastite subclínica?

    Petterson Sima: A mastite clínica é mais fácil de ser percebida, pois o leite apresenta grumos visíveis com o auxílio do teste da caneca telada (ou caneca do fundo preto). Em casos mais graves, pode haver pus ou sangue no leite, além do úbere apresentar inflamação, intensificando o prejuízo e, em alguns casos, pode causar a inutilização do quarto mamário. É muito importante que seja realizado o teste da caneca antes de cada ordenha e em cada vaca. Lembrando sempre que devem ser retirados três jatos de leite, o que garante um diagnóstico efetivo e a exclusão do leite residual contaminado.

    A mastite subclínica possui caráter silencioso, dificultando a detecção a olho nu. Devido à falta de sinais evidentes da enfermidade, são necessários testes auxiliares para o diagnóstico da Contagem de Células Somáticas (CCS) no leite, através de testes clínicos na própria fazenda, com ferramentas de contagem eletrônica ou reagentes químicos para estimativas ou análises laboratoriais de alta precisão das amostras de leite. Mas, para que tenha uma análise assertiva e de credibilidade, é importante que seja realizada em laboratórios credenciados pelo MAPA. Tecnicamente, considera-se que as vacas saudáveis apresentam contagens de até 200.000 células/ml.

    Scot Consultoria: Como é possível proteger o gado leiteiro da enfermidade?

    Petterson Sima: A mastite é uma doença multifatorial, ou seja, existem diversas causas para sua incidência, como imunidade baixa, desnutrição, estresse térmico por calor, traumas, ordenhadeira sem revisão periódica, estresse, entre outros. Mas os fatores mais importantes para proteger o gado leiteiro da doença são a rotina de ordenha e o cuidado com os tetos antes e após a ordenha.

    Conhecidos como pré e pós-dipping, os manejos de preparo dos tetos do úbere, com auxílio de soluções químicas especializadas antes e após a ordenha, trazem benefícios à saúde das vacas e para o bolso do produtor de leite. Promover tetos livres de contaminantes e uma pele sadia impactam diretamente na prevenção de mastite e melhoria dos índices de CCS e CBT (Contagem Bacteriana Total).

    O sistema mais utilizado, no Brasil, é realizado com produtos líquidos ou espuma aplicados nos tetos por 30 segundos e enxugados/limpos com papel toalha. É um bom método, mas apresenta limitações, especialmente na limpeza e massagem estimulante do teto. O melhor manejo para retirada de sujeira é com toalhas de tecido embebidas de soluções desinfetantes não agressivas para a pele. Além disso, os produtos de pré-dipping devem conter componentes cosméticos para melhorar a saúde da pele.
    A orientação técnica específica para cada fazenda é importantíssima. Não existe apenas uma receita para todas as fazendas.

    Scot Consultoria: O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de leite, segundo o MAPA. Quais prejuízos a mastite pode causar à produção leiteira?

    Petterson Sima: Atualmente, produzimos algo próximo a 34 bilhões de litros de leite por ano. Com o nível de CCS médio estimado no Brasil, cerca de 500 mil, podemos considerar que deixamos de produzir, pelo menos, 1,75 bilhão de litros por ano, correspondente a 5% da produção. Esse é um valor conservador. Isso significa quase 5 bilhões de reais a menos por ano, mas pode ser muito maior.

    Pesquisas recentes da ESALQ observaram dados do SEBRAE-MG de 2015-2017, com mais de 500 fazendas em Minas Gerais com média geral produtiva de 17 litros/vaca/dia nos últimos anos. Os produtores com média de 15 e 17 litros/dia/vaca possuíam CCS acima de 500 e 750 mil, respectivamente. Em compensação, as fazendas com CCS média abaixo de 200 mil produziam 20,5 litros/vaca/dia. A diferença de custo por vaca entre esses grupos não foi tão mais elevada. As fazendas com maior CCS (>750 mil) investiam apenas 400 reais a menos/vaca/ano, comparada às melhores fazendas (<200 mil).

    Em compensação, a diferença do lucro entre essas mesmas fazendas era superior a 700 reais/vaca/ano, em que as fazendas com mais de 750 mil de CCS tinham prejuízo na realidade.
    Apesar do produtor achar que perde dinheiro com medicamento e descarte do leite, 70% do seu prejuízo anual está na perda de produção de leite pela mastite clínica e, principalmente, subclínica.

    Scot Consultoria: Os métodos preventivos da mastite são mais viáveis financeiramente do que o tratamento e possível perda do teto, certo? Então por que vemos tantos casos que poderiam não ter ocorrido com a prevenção correta?

    Petterson Sima: É possível a perda de um ou mais tetos. Ainda temos forte cultura de sanidade precária nas fazendas. Muitas técnicas, que surgiram nos últimos 20 anos, ainda são consideradas dispensáveis ou “bobeiras” por muitos produtores. O grande problema está relacionado à informação. Muitas propriedades não possuem gestão empresarial, não tratam a fazenda como uma empresa, um verdadeiro negócio. Grande parte não sabe dizer quanto gasta para produzir 1 litro de leite, por exemplo.

    É preciso coletar e organizar todos os dados que a fazenda possui, técnicos e financeiros. Depois, analisar os dados é tão importante quanto coletar. Entender onde estão os gargalos, os prejuízos e as oportunidades. Somente com dados, é possível perceber o real prejuízo. Para que o produtor seja convencido de que prevenir é mais barato e mais eficiente do que tratar, são necessários dados fiéis e análises adequadas.

    Isso serve para os produtos e ferramentas de prevenção e cura. Optar sempre por comprar produtos e contratar serviços mais baratos é o famoso “barato que sai caro”. Por não analisarem as informações da produção leiteira, a maioria nem sabe que os custos com higiene, revisão do maquinário de ordenha e ferramentas de controle da mastite, dificilmente, superam 3% do custo total da fazenda. É um investimento baixo frente ao benefício gigante.

    Por isso existem os técnicos, de empresas privadas e de organizações públicas, que disponibilizam orientação técnica para melhorar o sistema de produção, sanidade e qualidade do leite. Não tem milagre! Apenas precisamos aplicar as técnicas e práticas conhecidamente eficientes.

    Scot Consultoria: A higiene na ordenha é um passo importante na prevenção de mastite. O uso de pré e pós-dipping já é difundido em toda fazenda leiteira?

    Petterson Sima: Infelizmente, não. Muitas fazendas ainda não utilizam de tais ferramentas ou mesmo usam produtos de desempenho precário, com formulações caseiras de baixa eficiência em limpeza, desinfecção e/ou cosmética, mas, com certeza, há avanços nítidos nos últimos anos. O entendimento sobre o controle de mastite está aumentando no mercado, entre produtores e técnicos, e, cada vez mais, estamos adotando práticas e tecnologias eficazes, nos aperfeiçoando.

    É um caminho sem volta. Os produtores que perceberam os benefícios da tecnificação têm aumentado seus índices produtivos e sua lucratividade. Outros seguirão o exemplo. O mercado exigirá, a cada dia mais, o controle de doenças, melhoria genética, eficiência produtiva e redução de prejuízos. Não tenho dúvidas de que, em alguns anos, não apenas seremos um dos maiores produtores de leite, mas cada vez mais seremos referência global em sistemas de produção eficientes e lucrativos. Isso irá ocorrer concomitantemente com a melhoria dos conceitos de biosseguridade dentro das fazendas leiteiras.

    Fonte: https://www.canalrural.com.br/