Daily Archives

12 de junho de 2023

  • Trigo absorve mais CO2 do que emite, diz pesquisa

    Os cientistas observaram que durante o ciclo produtivo, o trigo absorveu dióxido de carbono, neutralizando as emissões dos períodos de pousio

    Pesquisa conduzida pela Embrapa Trigo (RS) e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) comprovou que o trigo é capaz de sequestrar mais carbono do que emite para a atmosfera.

    Os cientistas observaram que durante o ciclo produtivo, o trigo absorveu um total de 7.540 kg de dióxido de carbono (CO2) por hectare da atmosfera, neutralizando as emissões dos períodos de pousio (sem plantas de cobertura do solo ou cultura geradora de renda sob a forma de forragem ou produção de grãos), e garantindo a oferta líquida de 1.850 kg de CO2 por hectare.

    Os resultados deram origem ao artigo CO2 flux in a wheat/soybean succession in subtropical Brazil: a carbon sink.

    A pesquisa contou com a instalação de uma torre de fluxo, em uma lavoura de grãosem Carazinho, município na região norte do Rio Grande do Sul.

    Esse equipamento é utilizado pela UFSM para avaliar a emissão de gases de efeito estufa (GEE) desde a década de 1990.

    O objetivo foi avaliar as diferenças entre emissão e retenção de carbono (balanço) no sistema de produção trigo-soja, quantificando os fluxos de CO2 em lavoura comercial de grãos.

    Utilizando o método de Covariância de Fluxos Turbulentos ou Eddy Covariance (EC), a torre de fluxo capturou informações capazes de identificar o balanço de carbono em cada etapa do sistema de produção ao longo do ano.

    A pesquisa envolveu dez profissionais de diferentes segmentos, como engenheiros-agrônomos, físicos, matemáticos e profissionais da ciência da computação.

    De acordo com a professora Débora Roberti, do departamento de Física da UFSM, apesar do equipamento apresentar alto custo para aquisição (que pode chegar a 180 mil dólares), ele permite uma resposta rápida sobre os fluxos de gases no sistema, gerando uma sólida base de dados em apenas um ano, enquanto outras técnicas de campo demandam longos períodos de tempo para uma resposta segura em relação ao balanço de carbono no ambiente.

    “O método que utilizamos ajudou a estabelecer parâmetros para orientar o manejo mais eficiente das áreas agrícolas na retenção de carbono em prol de um sistema de produção de grãos mais sustentável”, explica a pesquisadora, lembrando que as informações geradas podem chegar ao produtor de forma prática, ajudando na tomada de decisão: “Traduzimos uma série de algoritmos numa linguagem simples, acessível ao produtor e à assistência técnica, para que os conhecimentos possam ser adotados na lavoura”, acrescenta.

    Trigo “descarbonizante”

    A torre de fluxo foi instalada em uma lavoura de grãos, conduzida sob sistema de plantio direto, semeada com trigo no inverno e com soja no verão.

    O balanço de carbono foi registrado em cada etapa do sistema de produção, abrangendo o cultivo do trigo, o pousio de primavera (entre a colheita do trigo e a semeadura da soja), o cultivo da soja e o pousio de outono (após a colheita da soja até a entrada da cultura de inverno).

    Para avaliar o balanço de CO2, a pesquisa considerou a retenção no sistema de produção e a emissão para a atmosfera, descontado o carbono que foi exportado nos grãos colhidos.

    “Na avaliação dos resultados, o trigo mostrou que é capaz de retirar mais carbono da atmosfera do que emite, ou seja, é uma cultura “descarbonizante”, que ajuda a reduzir gases de efeito estufa da atmosfera como o CO2”, constata Genei Dalmago, também pesquisador da Embrapa.

    O balanço de carbono em cada etapa da produção de grãos, após descontada a quantidade extraída pelos grãos na colheita, mostrou que o trigo incorporou no sistema 5,31 gramas (g) de CO2 por metro quadrado (m²) ao dia; a soja, 0,02 g (ou seja, praticamente zero); e os dois períodos de pousio emitiram 6,29 g.

    O trigo apresentou o que os pesquisadores chamam de “balanço negativo” de carbono, já que a cultura sequestra mais carbono do que emite para a atmosfera. A cultura do trigo absorveu um total de 7.540 kg por hectare de CO2 da atmosfera durante o ciclo, neutralizando as emissões dos períodos de pousio e garantindo a oferta líquida de 1.850 kg/ha, comprovando a possibilidade de o trigo atuar como cultura “descarbonizante” na produção de grãos do Sul do Brasil.

    Os resultados da pesquisa apontam ainda os impactos negativos do pousio no sistema de produção de grãos em relação à emissão de CO2. Em apenas 30 dias, foi capaz de emitir 27% de todo o carbono que o trigo e a soja acumularam em 11 meses de cultivo.

    “É possível observar que o pousio no sistema de produção emitiu CO2, principalmente após a colheita do trigo, quando o calor acelera a decomposição dos restos culturais. No experimento, foram apenas 15 dias de pousio na primavera, com a emissão de 11,5 gramas de CO2 por metro quadrado por dia, um valor muito alto que precisa ser sanado no sistema”, avalia Dalmago.

    Segundo ele, o cultivo de inverno ajuda a equilibrar o sistema, já que a soja absorve praticamente o mesmo valor de CO2 que emite, enquanto o trigo retira CO2 da atmosfera.

    O pesquisador alerta, porém, que já existem alternativas para reduzir ou eliminar o pousio entre as culturas no outono, como plantas de cobertura, plantas para produção de grãos ou, ainda, para a produção de forragens.

    “Esse foi um estudo inicial que buscou verificar o desempenho do trigo na fixação do CO2 no sistema de produção de grãos do Sul do Brasil, mas acredito que outras culturas de outono e inverno e mesmo plantas de cobertura possam apresentar um balanço de carbono ainda mais negativo”, conta o pesquisador.

    Gouvêa complementa destacando que o projeto está em busca de parcerias para ampliar a infraestrutura de avaliação e monitoramento, especialmente de novas torres de medição, que poderão ser instaladas em diferentes ambientes de produção de grãos da Região Sul:

    “Nossa meta é ampliar o estudo, contemplando diferentes sistemas de produção e combinando novas variáveis como a fixação de carbono no solo, a influência do regime de chuvas e de outras variáveis meteorológicas, a topografia, maiores teores de lignina nas espécies e a sua relação com a decomposição das plantas, entre outras”, pontua.

    Fonte: https://www.canalrural.com.br/

  • Do cenário de escassez aos recordes de produção: o salto na indústria leiteira

    Embrapa Gado de Leite completa 50 anos impulsionando a produção e a produtividade da cadeia de leite no país, graças à pesquisa científica, parcerias público-privadas e avanços genéticos

    Na década de 1970, o Brasil enfrentava uma série de crises no abastecimento de diversos produtos agrícolas. Filas enormes eram comuns para comprar itens essenciais como feijão, arroz, carne e leite. No caso do leite, em 1973, a produção nacional não chegava nem a 8 bilhões de litros anuais, com uma média de produtividade por vaca inferior a 700 litros por ano. No entanto, o panorama mudou consideravelmente na cadeia leiteira desde então.

    Hoje, o Brasil já supera a marca de 35 bilhões de litros de leite produzidos anualmente, com a produtividade média do rebanho sendo mais de três vezes superior à registrada há 50 anos. Esse progresso notável na produção e na produtividade da indústria leiteira brasileira é resultado principalmente da pesquisa científica, impulsionando um aumento de quase 100 litros por habitante nesse período, elevando o consumo médio de leite de 75 litros para 170 litros recentemente.

    Pesquisa científica e parcerias público-privadas

    O ponto de virada na evolução da indústria leiteira ocorreu com a criação da Embrapa Gado de Leite em 26 de outubro de 1976, na época denominada Centro Nacional de Pesquisa em Gado de Leite (CNPGL). Naquele momento, os desafios de pesquisar, desenvolver e transferir tecnologias para uma atividade presente em praticamente todos os municípios brasileiros, com diferentes níveis de tecnificação, eram enormes.

    A missão inicial da unidade de pesquisa era “viabilizar o aumento do consumo de leite e derivados por meio do aumento de sua oferta”.

    O programa de implantação da unidade determinava que os estudos deveriam estar focados na implantação de sistemas de produção que permitissem uma abordagem abrangente dos problemas a serem resolvidos pela pesquisa.

    Para atender a essas questões, em 1977, foi criado dentro da Embrapa o “Sistema de Produção de Gado Mestiço”, com um rebanho de composição genética mestiça entre as raças holandesa e zebu, criado principalmente a pasto, com uma escala de produção e um modelo de exploração de média tecnologia que representava uma grande parcela das fazendas produtoras de leite do Brasil naquela época.

    Além disso, foi estabelecido o Projeto de Acompanhamento de Fazendas, um trabalho pioneiro de prospecção dos problemas da atividade e transferência de tecnologias. Foram realizadas ações de acompanhamento do desempenho de sistemas de produção de leite, inicialmente em propriedades de Minas Gerais e Rio de Janeiro, e posteriormente em todo o país.

    Cruzamentos genéticos e seleção para aprimorar raças leiteiras

    Foi nesse momento que o foco inicial se voltou para as raças bovinas, dando início às pesquisas sobre o mestiço leiteiro brasileiro e estratégias de cruzamento para produzir uma raça leiteira que reunisse as características de alta produção inerentes ao Bos taurus (como a raça holandesa) com a adaptabilidade às condições tropicais, características do Bos indicus (como a raça gir).

    Essas bases foram essenciais para os programas de melhoramento animal voltados à produção de leite em condições tropicais, coordenados pela Embrapa em parceria com as associações nacionais de criadores.

    O modelo de parceria público-privada foi um grande sucesso, resultando no desenvolvimento da raça gir leiteiro, pioneira em 1985, seguida da raça guzerá em 1994 e do girolando em 1997, que impulsionaram significativamente a produtividade e permitiram a disseminação de genética superior adaptada às diferentes regiões do país. Além disso, a pesquisa também se concentrou na avaliação genética das raças holandesa em 2003 e, mais recentemente, da raça jersey, em 2022.

    Profissionalização da cadeia produtiva

    É importante lembrar que, até o início da década de 1980, a pecuária nacional não possuía critérios objetivos e precisos para a organização da reprodução. De maneira empírica, os pecuaristas realizavam cruzamentos entre animais com características de interesse, como boa produção leiteira, mas nem sempre obtinham descendentes com o mesmo desempenho.

    Para resolver esse problema, a Embrapa Gado de Leite traçou o perfil genético dos reprodutores e organizou o primeiro sumário com o valor genético dos animais, orientando e organizando a reprodução. Essa ação não apenas profissionalizou a cadeia produtiva do leite ao destacar o valor reprodutivo de cada animal por meio da genética, mas também foi pioneira nesse trabalho no país. Posteriormente, surgiram os sumários para o gado de corte e outras criações animais.

    Outro destaque na atuação da Embrapa Gado de Leite é o melhoramento genético vegetal. Até o início da década de 1980, os sistemas pecuários no Brasil eram predominantemente extensivos, baseados no uso de pastagens de gramíneas pouco produtivas e de baixo valor nutricional, resultando em baixas taxas de lotação e desempenho animal. Atualmente, as cultivares melhoradas associadas ao manejo adequado das pastagens se expandiram por todos os biomas do país.

    A Embrapa Gado de Leite desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento de diversas forrageiras, começando com o capim-elefante pioneiro, destinado à alimentação de vacas leiteiras, seguido por outras variedades como o capim-braquiária e o capim-elefante napier.

    Transferência de tecnologia 

    Ao longo dos anos, Embrapa Gado de Leite desenvolveu e promoveu uma ampla variedade de programas de treinamento e extensão rural, que incluíam dias de campo, cursos, palestras, publicações técnicas, programas de rádio e TV, além de consultorias diretas aos produtores e empresas.

    A aproximação com o setor produtivo e a sociedade civil organizada foi uma constante durante os 50 anos de existência da Embrapa Gado de Leite, permitindo que as tecnologias desenvolvidas chegassem aos produtores e fossem efetivamente aplicadas, contribuindo para o crescimento e a sustentabilidade da atividade leiteira no Brasil.

    Futuro da indústria leiteira brasileira

    A pesquisa científica, aliada a parcerias público-privadas, contribuiu para o desenvolvimento de raças adaptadas às condições tropicais, o aprimoramento genético de rebanhos e pastagens, além da disseminação de tecnologias e conhecimentos aos produtores rurais.

    Esses avanços têm impulsionado a indústria leiteira nacional, que hoje ocupa posição de destaque mundial. Com um futuro promissor, o setor leiteiro brasileiro continua em constante evolução, buscando soluções inovadoras para enfrentar os desafios e atender às demandas do mercado, garantindo o abastecimento de um produto essencial para a alimentação e o desenvolvimento do país.

    Fonte: https://www.canalrural.com.br/

  • Soja: mercado, clima, plantio nos EUA, demanda. O que esperar?

    Analista relembra fatos importantes da semana passada e indica o que deve ficar no radar do produtor para os

    O relatório de oferta e demanda da soja produzido pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) trouxe poucas modificações significativas para as safras 2022/23 e 2023/24. A avaliação é do analista de mercado da Grão Direto, Ruan Sene.

    O especialista relembra outros fatos importantes da semana passada e destaca o que merece a atenção do produtor nos próximos dias. Acompanhe:

    O que aconteceu de importante?

    • Diminuição na demanda de soja: resultou em aumento nos estoques dos Estados Unidos e em um acréscimo de 0,84 milhão de toneladas nos estoques globais. Houve, também, um leve decréscimo na expectativa de produção da Argentina para a próxima safra.
    • Plantio e clima norte-americano: as condições climáticas, com baixa ocorrência de chuvas, aceleraram o progresso das lavouras, alcançando níveis superiores a 90%, conforme relatado pelo USDA. No entanto, essa situação também trouxe preocupações em relação às plantações em campo, que necessitam de um clima favorável para o seu pleno desenvolvimento.
    • Dólar encerrou a semana em queda: a perspectiva de que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, manterá a taxa de juros estável na próxima semana e de que o Comitê de Política Monetária (Copom), no Brasil, começará a reduzir a taxa Selic em agosto, gerou resposta positiva do mercado. No Brasil, o foco continua no cenário político e econômico, com expectativa em torno do relatório preliminar da reforma tributária.

    Diante destes cenários, o contrato de soja com vencimento em julho/23 finalizou a semana cotado a US$ 13,88 o bushel (+2,66%) e o contrato com vencimento em março/24 encerrou a US$ 12,12 o bushel (+1,76%).

    Com a desvalorização do dólar junto às valorizações de Chicago, a semana para a soja fechou positiva em relação à anterior.

    O que esperar do mercado da soja nesta semana?

    De olho no clima

    Apesar do rápido progresso no plantio dos Estados Unidos, a cultura da soja vem sofrendo perda de qualidade, especialmente na região do cinturão agrícola.

    A preocupação para os produtores norte-americanos é a seca que tem se espalhado pela região. Para mitigar ou, pelo menos, tentar reduzir o dano, é crucial que as previsões de chuvas para o cinturão se concretizem nos próximos 15 dias. Esta semana começará a trazer chuvas para o sul de Iowa, Illinois, Indiana e Ohio.

    Fundos de investimento com viés positivo para Chicago

    Sene lembra que o mercado, que tenta antecipar movimentos, tem entendido que as adversidades climáticas podem trazer problemas na produção.

    “Esse acréscimo no prêmio de risco oferece oportunidades para os produtores que ainda não comercializam sua próxima safra e melhora, também, a relação de troca para os fertilizantes”.

    Demanda em movimento

    Após um mês de exportações expressivas no Brasil, espera-se que os números comecem a declinar nos próximos meses, especialmente com a entrada do milho no mercado.

    “Já para os Estados Unidos, as compras da semana anterior poderão atrair atenção de outros países, que também poderão manifestar interesse de compra”, enfatiza Sene.

    Dólar poderá continuar em queda

    A semana será marcada por grandes oscilações no dólar, diante dos importantes dados econômicos que serão divulgados. Entre eles, está o anúncio da taxa de juros norte-americana, que deverá ser mantida. No Brasil, também espera-se manutenção.

    Brasil: maior exportador de farelo de soja

    Com a quebra já consolidada da Argentina, somado à produção recorde no Brasil, o país poderá assumir a liderança do ranking de exportação mundial de farelo de soja.

    De acordo com o analista da Grão Direto, isso foi confirmado pelas projeções do USDA, na última sexta-feira (9) e deverá se consolidar nos próximos meses.

    “Perante os fatos apresentados, a soja em Chicago poderá apresentar uma semana positiva, mas a queda projetada para o câmbio tende a neutralizar a valorização dos preços no mercado interno brasileiro”, finaliza Sene.

    Fonte: https://www.canalrural.com.br/