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19 de junho de 2023

  • Novo modelo de análise revela alta sustentabilidade em sistemas de integração agrícola

    O modelo comprava que sistemas que integram lavoura, pecuária e floresta são mais sustentáveis

    Um estudo recente conduzido por pesquisadores da Embrapa e outras instituições apresentou um modelo inovador de análise que mede a sustentabilidade de sistemas de integração agrícola. Esse modelo coleta métricas econômicas, ambientais e sociais e constatou que as fazendas que adotam práticas de integração, como lavoura, pecuária e floresta, obtiveram os melhores resultados nessas três dimensões.

    De acordo com as informações da Embrapa, o estudo utilizou uma escala numérica para cada variável analisada, permitindo comparações e categorizações. Os resultados confirmaram que os índices de sustentabilidade nos sistemas de integração foram superiores aos de estabelecimentos dedicados exclusivamente à produção de grãos ou pecuária.

    Publicado no periódico Agronomy for Sustainable Development, o artigo propõe um modelo baseado na lógica difusa, formato por 18 indicadores que avaliam a sustentabilidade de sistemas agrícolas. Além disso, o estudo apresenta 22 casos de estudo com os sistemas produtivos mais comuns na fronteira agrícola de Mato Grosso, abrangendo os biomas da AmazôniaCerrado e Pantanal.

    Os pesquisadores destacaram que o modelo de análise leva em conta o conhecimento científico e a percepção de especialistas na definição dos indicadores, considerando a grande variabilidade de desempenho dos sistemas agrícolas. Além do mais, o modelo abrange as interações entre as dimensões econômica, ambiental e social da sustentabilidade, podendo ser adaptado a diferentes contextos ambientais e socioeconômicos.

    “Escolhemos esse método porque incorpora as principais características dos modelos multicritério já descritos na literatura científica para avaliar a sustentabilidade de sistemas agrícolas, além de oferecer a vantagem de compatibilizar variáveis contínuas e categóricas e considerar a imprecisão inerente à análise da sustentabilidade, oferecendo um resultado numérico”, diz o pesquisador Júlio César dos Reis, da Embrapa Cerrados (DF), um dos autores do artigo.

    O conjunto de indicadores e o modelo de análise foram construídos associando as atividades produtivas aos efetivos resultados econômicos, ambientais e sociais, indicando que a sustentabilidade é considerada como um todo, e não como a soma de seus componentes.

    A estrutura do modelo forma um índice de sustentabilidade (IS) composto por três indicadores parciais (correspondentes às três dimensões da sustentabilidade), cada um com seis sub indicadores, calculados a partir de dados levantados em cada fazenda.

    Desempenhos elevados e equilibrados geram maiores índices de sustentabilidade

    Os sistemas de integração em propriedades apresentaram valores médios e altos para o índice de sustentabilidade (IS). Duas fazendas, uma com Integração Pecuária-Floresta (IPF) e outra com Integração Lavoura-Pecuária (ILP), destacaram-se com os maiores índices de sustentabilidade (91,87 e 91,78, respectivamente), demonstrando um equilíbrio favorável nas três dimensões: econômica, social e ambiental.

    A fazenda com IPF possui especialização na produção de madeira de teca para exportação, combinada com uma pecuária de alta tecnologia. Apesar dos níveis medianos de lucratividade e produtividade, os altos índices sociais e econômicos são explicados pela eficiência e expertise na produção de teca. Destacam-se também a eficiência no uso de fertilizantes e pesticidas, bem como os serviços ecossistêmicos proporcionados pelas florestas, como a redução da perda de solo, sequestro de carbono e baixo escoamento superficial. Esses fatores contribuem para um elevado índice de sustentabilidade ambiental.

    Por sua vez, a propriedade com ILP demonstrou um alto desempenho produtivo baseado em práticas de gestão voltadas para melhorar os resultados financeiros e operacionais. Estratégias de comercialização foram adotadas para mitigar os impactos negativos da volatilidade dos preços das commodities, e houve divisão de lucros com os funcionários. Além disso, o sistema pecuário é focado exclusivamente na engorda de gado, aproveitando pastagens consorciadas com o cultivo de milho.

    A propriedade realiza três safras ao longo do ano, sendo duas de grãos (soja e milho) e um período de três meses para engorda dos animais na mesma área. Essa fazenda obteve o segundo maior lucro (969,91 dólares por hectare) entre as 22 fazendas analisadas e apresentou um desempenho ambiental semelhante à fazenda com IPF, especialmente em relação à redução da perda de solo, ao uso de fertilizantes e às emissões de gases de efeito estufa.

    No entanto, os pesquisadores também identificaram desempenhos desequilibrados em propriedades com sistemas de integração, com resultados elevados nos indicadores econômicos e ambientais, mas um desempenho social mais baixo, o que comprometeu o índice de sustentabilidade. Uma das propriedades, com sistema de ILP, apresentou baixa escolaridade e atratividade no emprego, enquanto outra, também com ILP, teve valores baixos em treinamentos, cursos e qualidade do emprego.

    Segundo os autores, os diferentes resultados entre os sistemas de integração demonstram que é difícil estabelecer uma conclusão geral sobre os benefícios da intensificação sustentável, pois eles são específicos para cada contexto.
    “O simples fato de as fazendas utilizarem sistemas de integração não garante um elevado IS. Elas precisam ter um desempenho elevado e equilibrado entre as três dimensões da sustentabilidade”, diz o pesquisador Geraldo Stachetti, da Embrapa Meio Ambiente (SP).

    Já as propriedades de pecuária receberam os valores de IS mais baixos. Mesmo uma fazenda que utiliza manejo de pastagem, melhoramento genético e sistemas de confinamento dos animais não alcançou bons resultados. Apesar de ter apresentado o melhor desempenho econômico entre as propriedades de pecuária, o baixo IS se deve aos baixos desempenhos social e ambiental. Com isso, as propriedades foram agrupadas em três categorias.

    Categoria A – desempenho alto

    Há apenas três fazendas, sendo uma com IPF e duas com ILP, que apresentaram bom desempenho econômico e excelente desempenho ambiental, porém desempenho mediano no indicador social.

    Categoria B – desempenho mediano

    Contempla quase todas as fazendas de grãos e apenas duas com sistemas de integração e foi dividida em dois subgrupos: B1, composto, em geral, por aquelas que apresentaram bom desempenho econômico associado a indicadores social e ambiental medianos; e B2, formado por fazendas que apresentaram baixo desempenho econômico associado a indicadores social e ambiental medianos.

    Categoria C – desempenho baixo

    Reúne todas as fazendas de pecuária e duas de grãos, e também foi dividida em dois subgrupos: C1, com propriedades caracterizadas por valores muito baixos em duas ou nas três dimensões da sustentabilidade; e C2, com as três fazendas que obtiveram resultados muito baixos nas três dimensões e, consequentemente, com os piores IS.

    Fonte: https://www.canalrural.com.br/

  • Plantas daninhas: plataforma mostra resistência a herbicidas; acesse dados online

    Ferramenta gratuita desenvolvida em conjunto entre Embrapa e Bayer ajuda produtor a planejar melhor estratégias de controle; pesquisa nacional acaba de incluir resultados referentes a Mato Grosso

    Pesquisadores da Embrapa e da Bayer estão monitorando a resistência de plantas daninhas a herbicidas em Mato Grosso. O trabalho faz parte de um esforço nacional, que conta com a participação de especialistas em todo o país, e os resultados estão disponíveis em uma plataforma online de acesso aberto.

    De acordo com as informações da Embrapa, na plataforma é possível verificar os locais onde foram coletadas sementes de biótipos com suspeita de resistência às espécies de plantas daninhas envolvidas e a qual herbicida e mecanismo de ação elas são resistentes.

    “A ideia é que o site sirva de alerta para os produtores. Ao verem que há resistência em sua região, eles podem planejar as estratégias de controle, seja com a rotação de moléculas e de mecanismos de ação, com uso de herbicidas pré-emergentes, por exemplo, ou ainda com o manejo cultural usando plantas de cobertura”, afirma a pesquisadora da Embrapa Agrossilvipastoril Fernanda Ikeda.

    O trabalho

    A identificação de populações de daninhas resistentes tem início com coletas em campo, em expedições realizadas às principais áreas agrícolas do estado, onde são coletadas sementes de plantas-escape com suspeita de resistência. Também pode haver o envio de sementes pelos produtores e consultores que encontrarem populações suspeitas de resistência.

    Coletadas ou recebidas, as sementes são semeadas em vasos em casas de vegetação. As plantas passam por um processo inicial de avaliação, no qual são expostas às doses recomendadas dos herbicidas selecionados para os testes de cada espécie na fase e condições ideais de aplicação. Aqueles indivíduos que sobrevivem ao controle são classificados previamente como resistentes. São esses dados que são lançados na plataforma.

    “Nem todas as plantas que sobrevivem em áreas de lavoura são resistentes. Muitas vezes a sobrevivência decorre de fatores diversos como aplicação em dose menor do que a recomendada, aplicação com a planta estressada ou em estádio avançado, mistura de produtos, falta de ajuste no pulverizador, vento durante a aplicação, entre outros. Por isso, muitas das amostras coletadas acabam se mostrando suscetíveis nesse primeiro teste”, explica o pesquisador da Embrapa Algodão Sidnei Cavalieri.

    Para se chegar ao diagnóstico definitivo de resistência é preciso avaliar se a característica de resistência é hereditária, ou seja, se ela passa para as gerações seguintes. Além disso, pode haver diferentes níveis de resistência, que são identificados em estudos de curva dose-resposta com uso de doses crescentes do herbicida e com repetições.

    Os ensaios de curva dose-resposta também estão sendo feitos na Embrapa Agrossilvipastoril. Como são mais demorados, optou-se em um primeiro momento por lançar a plataforma com os dados da primeira avaliação em casa de vegetação.

    “Este já é um importante indicativo para o produtor. Ele consegue ver como está o cenário na região dele, se há pressão de seleção de resistência para algum produto ou mecanismo de ação e pode usar essas informações na tomada de decisão”, diz Cavalieri.

    A expectativa é que a plataforma seja atualizada aos poucos com novas amostras coletadas e testadas. Além disso, futuramente também devem ser contempladas informações com a comprovação de resistência.

    Resultados em Mato Grosso

    As coletas de sementes de plantas daninhas em Mato Grosso se concentraram em 2018, 2019 e 2021. Três espécies de maior impacto econômico no estado foram priorizadas: capim pé-de-galinha (Eleusine indica), capim-amargoso (Digitaria insularis) e buva (Conyza spp.).

    Até o momento, foram avaliados 196 biótipos de capim pé-de-galinha, sendo 24% classificados como suscetíveis a todos os herbicidas, 54% como resistentes a um ou mais inibidores da ACCase (clethodim, fenoxaprop-p-ethyl e haloxyfop-p-methyl), 5% resistentes ao glyphosate (inibidor da EPSPs) e cerca de 17% com resistência a um ou mais inibidores da ACCase e ao glyphosate.

    “Vimos que 70% das amostras tiveram algum indicativo de resistência com herbicidas do grupo químico dos ariloxifenoxipropionatos (FOPs), enquanto apenas 13% tiveram resistência ao clethodim apenas ou combinado com outro(s) FOP(s) e/ou glyphosate”, destaca Ikeda.

    Para o capim-amargoso foram avaliados 116 biótipos. Cerca de 69% foram classificados como suscetíveis a todos os herbicidas, 22% resistentes ao glyphosate e 8% com resistência a um ou mais inibidores da ACCase (a maior parte classificada como resistente ao haloxyfop) e ao glyphosate.

    A buva, que assim como o capim-amargoso tem dispersão pelo vento, contou com resultado de apenas 19 biótipos. Número maior foi avaliado, mas a falta de germinação de sementes limitou os dados. Dos biótipos analisados, 21% foram suscetíveis a todos os herbicidas testados (2,4-D, chlorimuron-ethyl, diquat, amônio-glufosinato, glyphosate e saflufenacil), 42% resistentes ao glyphosate e 37% com resistência ao chlorimuron e um ou dois dos herbicidas avaliados (2,4-D, glyphosate, glufosinato de amônio). Não foi encontrado nenhum biótipo com resistência a diquat e saflufenacil.

    Fonte: https://www.canalrural.com.br/